O Macaco e a Lua – Cia. Pé no Asfalto,

por Carolina Angrisani.

18_11_O Macaco e a Lua

Em uma quinta-feira de muito frio, a Cia. Pé No Asfalto, existente desde 2017 e constituída por artistas de Mauá, município da região metropolitana de São Paulo, aproveitou o sol do fim de tarde e ocupou a Rua Babalu, em Heliópolis. O lugar escolhido para aterrar seus elementos de cena foi a calçada de uma farmácia de fachada vermelha, o que pareceu bastante simbólico para o momento histórico.

 

A palhaça Sarita Gravatilde (Jussara Freitas) e o palhaço João Pimentão, vulgo JP (David Casanova) convidaram o público para uma viagem em alto-mar e garantiram a diversão da criançada com música, palhaçada e uma narrativa instigante.

 

A dramaturgia é inspirada no conto “O Macaquinho e a Lua”, originário da Guiné Bissau, país do continente africano, que conta de forma mítica a origem dos tambores africanos.

 

Na história narrada pelos palhaços, dois pescadores se perdem em alto-mar e decidem pescar para saciar a fome, quando são surpreendidos por um livro de contos africanos fisgado pelo anzol da vara de pescar. Assim, começam a desvendar o continente africano e sua história, evidenciando os apagamentos históricos que essa região sofreu ao longo dos séculos. “Sabia que o continente africano é constituído por cinquenta e quatro países?”, “E que lá existem sete territórios independentes?”, “Sabia que as pirâmides do Egito ficam no continente africano?”, “E que lá existe um país chamado Guiné Bissau?”, perguntam os palhaços, provocando reflexões sobre esse continente ainda tão pouco conhecido.

 

A narrativa é acompanhada por uma trilha sonora de fundo, com a qual é possível ouvir o som do mar, e que é atravessada por canções populares, sons de instrumentos musicais utilizados em cena e o barulho da rua.

 

Além da desenvoltura e carisma de Sarita e JP que apresentam excelente jogo cênico, a peça prende a atenção pela utilização de elementos simples que provocam a imaginação de forma lúdica, é o caso da embarcação feita por uma corda cheia de fitas de cetim coloridas ou do objeto cilíndrico que ora se torna monóculo, ora remo. Um único balde dá conta da imensidão do mar, e uma vara de pescar improvisada diverte com a minhoca colorida usada de isca no anzol.

 

Os palhaços vestem macacões cinza, capas de chuva amarelas, galochas e adereços coloridos, que acentuam a sensação de umidade vinda da água do mar, e conquistam a criançada.

O cenário é composto por uma rede de pesca erguida ao fundo, na qual se podem perceber alguns calçados emaranhados, como se tivessem sido pescados. A direção da peça é de Aline Moreno e Marcos Nascimento, que também operou a trilha.

 

A porosidade existente entre os palhaços, o público e a rua chamou a atenção e provocou risos, já que os acontecimentos do entorno acabaram fazendo parte da peça, foi o caso de um carro de polícia que passou no momento em que JP estava chorando e, logo, Sarita aproveitou a deixa para pedir que ficasse quieto “porque a polícia estava passando!”, ou no momento em que uma das folhas do livro se desprendeu e voou com o vento, e JP rapidamente disse “bem a página que estava o que a gente precisava ler!”, o que fez com que uma das espectadoras resgatasse a página perdida e a entregasse nas mãos de Sarita. A Cia. Pé No Asfalto, O Macaco e A Lua, Sarita e JP aqueceram essa tarde e alegraram adultos e crianças que estavam por lá. Viva às formas populares de cultura!

 

Escrito por Carolina Angrisani, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Unesp (orientanda do professor e pesquisador Alexandre Mate), pós-graduada em direção teatral pela Faculdade Paulista de Artes e licenciada em Artes Cênicas pela mesma instituição. Formada em arte dramática pelo Teatro Escola Célia Helena.

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