(um)A Louca das Frutas?! Sí pero no mucho!,

por Alexandre Mate.

21_11_A Louca das Frutas

Do templo nublado a pleno e intenso sol! O local escolhido para a apresentação do espetáculo, no dia 05/11/2022, com início às 11h, foi a feira-livre, conhecida como Feira da Framboesa de Heliópolis. A feira, é possível pensar, se caracteriza em um território de trocas ancestral. Feirantes acordam de madrugada, com a condução, muitas vezes, já preparada e segue seu destino, que de terça-feira a domingo muda. Chegam ao local definido, quase sempre ainda escuro, montam artesanalmente e, seguindo um determinado padrão estético de beleza, esperam pela gente disposta e com necessidade de comprar. Seus pregões tentam ganhar a gente distraída para comprar em sua barraca… Afinal, existe a concorrência e é preciso conquistar.

 

A Louca das Frutas é uma obra que apresenta a personagem Tiquita Cereja…, apresentada pela atriz Painé Santamaria, deliciosamente. A personagem chega “montada” e irrompe, com sua extravagância, os corredores da feira frequentada por gente normal. A presença exuberante chama a atenção. Ela chega à sua barraca já preparada e, em seus quase dois metros de altura (saltos vermelhos, altíssimos) e adereço de cabeça com muitas frutas de plástico, uma série de confusões, a partir de reprises circenses (equilibrismo e malabares, sobretudo) delicia o público.

 

A atriz se diz argentina (e parece mesmo ter vindo de lá), carrega em si e em seu trabalho uma determinada tradição de comicidade, relativa às figuras descritas como charlatãs. Em tese, a atriz domina suas técnicas, mas atrapalha-se, frequentemente, com a principal intenção de seduzir o público. Os “erros”, os trombões, os objetos derrubados… humanizam a personagem e cativam, tendo em vista tratar-se de um comportamento de reconhecimento e de semelhança. Assim, pelas trapalhadas e acertos (alguns números de equilibrismo são bem complexos), Tiquita ganha espaço e conquista as gentes.

 

Aliás, um senhor que estava a comprar (portava sacola), quando viu a figura exuberante, pediu-a em casamento várias vezes. Tiquita dizia-se casada, mas, artista popular, não se fechava ao pretendente, tratava-o sedutoramente bem.

 

Em um pouco mais de 40 minutos, a atriz conseguiu chegar, conquistar e levar um sábado absolutamente diferente aos/às transeuntes daquele dia de feira.

 

Alexandre Mate: Doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/USP, professor do programa de pós-graduação do Instituto de Artes da Unesp/SP; pesquisador teatral e autor de diversas obras sobre a linguagem teatral.

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